Aprovam um copo de gracejo

domingo, 9 de junho de 2013

O músico come mal. A dieta, primeiramente baseada em frutas, vegetais e fama transmuta-se e limita-se a marmita, cerveja quente e frustração. O músico afunda, afunda, afunda. Afunda fundo como suas olheiras, e essa é a prova de suas noites mal dormidas e embebedadas que fora apresentada ao juri durante o julgamento e antes de ouvir a condenação: uma vida inteira privada pelo medo.
Medo esse que acolhe ironicamente o coração da menina do Teerã, queimada de sol e roubada das bonecas de pano, que grita com os olhos cravados na porta-que-range do Orfanato: ''Não me leve, por favor!''. Realmente, preferir-lhe-ia as batatas mofadas da cozinha esverdeada do que as mãos rijas e quentes do homem que a furta. O medo vira seu confidente, personificando-se e alimentando-a, enquanto sem batatas nem portas, a menina é levada para o deserto e encaminhada para outras mãos quentes, um pouco mais roliças e enfeitadas de anéis. Roubam-lhe tudo, além da infância. Roubam-lhe os sentidos e a pureza da casta silhueta.
Já a prostituta do centro da cidade de Nossa Senhora do Socorro tem a silhueta dicotômica quanto a da menina. A sua é voluptuosa, chamativa, ardente. Melancólica. Extremamente melancólica. Quando dança para os poderosos, é como se estivesse se apresentando em um campeonato ao som de um tango fúnebre, onde a sensualidade fica no lugar da marcha e a tristeza no que seria a alma da mulher corrompida.
[...]

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