Aprovam um copo de gracejo

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Algo sobre tiros de flor

Mais um conflito. Como se os que já aconteceram no passado não bastassem, como se tivessem sido descartados, completamente ignorados. Mais alguns milhares de mortos por atentados. Como se já não fosse suficiente os atropelamentos, assaltos a mão armada ou mortes em plena final de campeonato. Mais tormento. Mais sede de vingança, que aparenta ser cada vez mais incessante. Outra ameaça. Outra invasão de território, outra espionagem. Os rostos tantos com simetrias distintas estão com os punhos em uníssono cerrados e com o olhar fustigante. A mesma expressão ríspida, glacial. O modo desumanamente humano escarrado no dedo indicador que ordena: “Ataquem!”,  e o semblante de Rei-absolutista-dono-de-desconhecidos-sem-direito-divino estampado na farda ou no terno importado. E então, sem qualquer sinal de compaixão, talvez porque esteja em extinção, homens que tem os bolsos pesados por conta do distintivo de ouro sentem-se à vontade para exaurir a vida alheia, de quem nada tem a ver (diretamente, claro) com seus desejos incontroláveis por mais poder e imposição de poder.Quase de maneira metódica e principalmente quando o foco é uma disputa política, há sempre as discordâncias, as provocações entre os envolvidos, o desejo de ser influente mundialmente, os conflitos indiretos e, por fim a reutilização de métodos em parte medievais e também bárbaros com um inquietante toque inovador pela utilização da tecnologia.Do ponto de vista de uma pessoa que tenta se centralizar sem ficar em cima do muro e que tenta ver os dois extremos de uma situação, toda essa disputa é desnecessária. Tem-se como exemplo a aparentemente eterna provação dos países e indivíduos aferrados ao capitalismo, de que suas ideologias são melhores que as utopias dos socialistas e vice-versa. O conflito é tão intenso em relação ao inimigo quanto para os países envolvidos, que atinge incansavelmente milhares de vítimas desde a eclosão da revolução francesa e das revoluções industriais, não só de forma súbita, como a morte, mas também de maneira repreensiva e não menos indolor.Como nesses casos não é possível extirpar os males que as criações do capitalismo e do socialismo ocasionaram, nos resta sentar e esperar uma possível guerra, já que a cada ameaça governamental que aparece estampada nos jornais e sites, menor é a esperança de uma conciliação entre esses dois extremos; ou uma cabeça mais aberta, de ambas as partes. Em um mundo em que o que sustenta um país é, de forma simplista, o dinheiro que entra e os investimentos que faz, o socialismo certamente perde forças. São poucos países adeptos, mas isso não significa que suas ideologias devem ser ignoradas por um mundo engolido pelo capitalismo. É necessária a permanência da utopia socialista de que viver em um mundo onde a busca da igualdade social é primordial.De forma generalizada, transformar toda uma mentalidade mundial que é trabalhada desde cedo para atender os padrões do capitalismo é uma tarefa difícil e demasiadamente demorada. É como ter que dizer à uma criança imaginativa e sonhadora que o Papai Noel não existe. A criança nega, chora, esboça uma tremenda dificuldade de desprendimento e por fim percebe que tem que aceitar que os presentes não vêm da fábrica do velho Noel, e sim do cartão de crédito dos pais. Mas é uma pena que adultos não sejam como as crianças, recusando-se a abrir a cabeça para novas ideias e, quase de maneira masoquista, complicando uma situação. Sem contar o fato de que é mais fácil lidar com uma criança do que com toda uma massa de adultos barulhentos e raivosos.Na teoria, é fácil dizer o que fazer: estimular a coletividade e o desprendimento do egoísmo e assim dar as mãos para desestimular os conflitos incessantes. Na prática as coisas giram de ponta a cabeça e qualquer floco de neve é motivo para aumentar a probabilidade de uma avalanche.Talvez o que Caeiro costumava escrever seja verdade e precisemos praticar a “Aprendizagem de desaprender”. Digo desaprender a ofender, a tampar os ouvidos e a propagar a ignorância e o egoísmo, não me referindo a um só rótulo (capitalistas ou socialistas), e sim a uma linhagem de seres humanos míopes, surdos e infelizmente, falantes. (Texto publicado no Jornal do Grêmio do colégio Liceu Santista, 13/05/2013)








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