Aprovam um copo de gracejo

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Sou

Sou um prato quebrado, sou um passeio de ônibus, sou um olhar desviado. Uma gargalhada, uma cafeteira, uma estante bagunçada. Uma livraria, uma preguiça, uma temakeria. Um moletom surrado, uma lingerie vermelha, um livro amarelado. O branco, o negro, o amarelo, o índio, o astronauta, o jornaleiro. O funk, o MPB, o rock dos anos 50. O pão na chapa, o café da madrugada, o lanche da cantina. A tequila do bar, a música da noite, o beijo roubado. O cheiro de acerola, o latido do cachorro, os olhos azuis da avó. O nordeste, sul e sudeste. As palhaçadas do meu pai, o sorriso da minha mãe, o crescer do meu irmão. Os amigos: antigos e novos. A estupidez, o arrependimento, o suspiro. A gargalhada descontrolada, a agonia da fotografia, o temor do ontem. Uma citação anônima, um desabafo meu. Uma frase de Nietzsche na madrugada. Uma poesia de Leminski aos sábados. Um conto de Poe às segundas de manhã.
Quando só, sobra. Quando nós, falta.
Sou toda saudade do amanhã. Sou toda vontade, toda intensidade, toda metade. Toda aos tragos que eu mesma puxo de mim, querendo por fim, gritar pro mundo “Enchi”.







Sou as palavras mesmo quando não.

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