Sou
um prato quebrado, sou um passeio de ônibus, sou um olhar desviado. Uma
gargalhada, uma cafeteira, uma estante bagunçada. Uma livraria, uma preguiça,
uma temakeria. Um moletom surrado, uma lingerie vermelha, um livro amarelado. O
branco, o negro, o amarelo, o índio, o astronauta, o jornaleiro. O funk, o
MPB, o rock dos anos 50. O pão na chapa, o café da madrugada, o lanche da
cantina. A tequila do bar, a música da noite, o beijo roubado. O cheiro de
acerola, o latido do cachorro, os olhos azuis da avó. O nordeste, sul e
sudeste. As palhaçadas do meu pai, o sorriso da minha mãe, o crescer do meu
irmão. Os amigos: antigos e novos. A estupidez, o arrependimento, o suspiro. A
gargalhada descontrolada, a agonia da fotografia, o temor do ontem. Uma citação
anônima, um desabafo meu. Uma frase de Nietzsche na madrugada. Uma poesia de
Leminski aos sábados. Um conto de Poe às segundas de manhã.
Quando
só, sobra. Quando nós, falta.
Sou
toda saudade do amanhã. Sou toda vontade, toda intensidade, toda metade. Toda
aos tragos que eu mesma puxo de mim, querendo por fim, gritar pro mundo
“Enchi”.
Sou as palavras mesmo
quando não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário