Seis horas da manhã, o sol encoberto pelas nuvens
carregadas de chuva. A janela aberta, o cubículo empoeirado, a cama de molas, o
armário com três mudas de roupa. Ela sentada na cama sentindo o vento com
cheiro de tempestade no rosto cansado; sentada no presente em frente ao futuro
nublado. O passado virou um conjunto de flashes indesejáveis e insistentes.
“Aqui está o seu dinheiro, eu volto na próxima
semana.” Eles todos dizem.
Ela acena com a cabeça em completa submissão. O olhar
longe, longe, tão longe. O olhar, o corpo, os sentidos. Costumava dizer para si
mesma que era preciso. Poderia ter sido pior. Não há outra maneira.
Faz parte da sua rotina ficar na cama por um bom
tempo, encolhida e longe, longe, tão longe. Fitando sua condição e procurando
não pensar no porquê. “Eles vêm, acontece, dão o dinheiro e vão embora, é
simples”. Simples. Não é simples. É doloroso, é humilhante. Toda essa cidade tem o poder
de humilhar, de esmagar quem não tem voz suficiente. Os sonhadores perdem a voz assim que pisam aqui.
“São Paulo, você me prometeu o mundo mas me
engoliu.”
Seis e meia da manhã, a campainha toca. Lá vem o
próximo. Um suspiro de angústia, um fechar de olhos. “É simples, é simples.”
Cordélia se levanta, arruma a calcinha e abre a
porta. Um homem com a barba mal feita e o rosto seboso a olha dos pés à cabeça, com o rosto transfigurado em um desejo repugnante.
“Tira essa roupa.” Eles todos dizem.
Louco para ler a parte três e assim por diante!
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