Aprovam um copo de gracejo

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Ensaio sobre tijolos

Durante seu crescimento, o homem constrói com a ajuda da família, da cultura e das relações sociais um muro resistente e maciço. Um troiano em sua própria mente. Dentro desse muro, cabe o que lhe foi ensinado ser certo e suas ideologias construídas a partir de segundos e terceiros, nunca sozinho.
Quando digo homem, é para condizer com a mentalidade da nossa geração e de muitas passadas: de que o homem é superior e o criador do culto à personalidade do líder muito antes de Stalin cogitar nascer. Isso também foi construído ao redor dos muros das mulheres, infelizmente.  
Poderia passar noites citando motivos para termos essa visão inferiorizada da mulher mesmo após sua conquista nos meios literários, no trabalho fora de casa por precisarem colocar comida na mesa enquanto os maridos estavam morrendo nas guerras, no direito ao voto ou na provação de que podem ganhar tanto em uma luta de braço quanto em um ringue. As mulheres só não conquistaram o direito de serem simplesmente mulheres. 
Vê-se pelo corpo feminino ser pintado religiosamente. Peitos não só só peitos, uma bunda não é só uma bunda: devem ser símbolos virginais. O nu feminino, ou seja, o que as mulheres são em frente ao espelho ou durante o banho, necessita ser preservado. O desejo é um pecado: todas tem, mas não devem falar de maneira alguma, pois devem ser damas delicadas e comportadas. 
Esse manto santificado que cobre o corpo da mulher é uma gaiola que limita mais ainda a liberdade. O sexo preservado até o casamento é uma congratulação. Mas, se a mulher "não se aguenta", é uma prostituta. Simples assim. É nesse momento que entra a maior contradição de todas, onde o homem é ensinado desde cedo a ser um comprador assíduo de revistas pornográficas e frequentador de bordéis enquanto a mulher deve permanecer virgem. Enquanto a mulher deve permanecer calada. Enquanto a mulher deve permanecer vestida. 
O ser humano, mesmo se algum dia, conseguisse conquistar a liberdade, não saberia utilizá-la. Não saberia porque o o preconceito é vicioso, e somente sem ele a liberdade é alcançada. 
Entretanto, como o muro erguido ao redor de Tróia, o muro do ser humano não é intransponível ou inquebrável. As ideologias mudam de acordo com as reflexões. Evoluções pessoais acontecem, e por mais que possa parecer, não são um mito. Porém, exige coragem. Coragem essa que deveria ser endeusada no lugar do corpo, porque só com ela esmaga-se alguns preceitos e, consequentemente, é com ela que chega-se mais perto da obtenção da liberdade.
Um muro quebrado com vista para o mar e entrada de luz, através de uma brecha, por menor que seja, causa uma dicotomia entre os tantos muros fechados, calados e estagnados. 
Mas uma coisa é certa: sábio é quem prefere receber o sol no rosto e sentir a brisa do mar ao permanecer cinza e com problemas na coluna dentro de muros apertados. 

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